monkeysUm novo adenovírus, chamado TMAdV (titi mackey monkey adenovirus), infectou tanto uma colónia de macacos titi como uma cientista humana e sua família.Fotografia cortesia de Kathy West

Uma classe de vírus foi mostrada pela primeira vez a saltar de animais para humanos – e depois a infectar outros humanos.

O vírus é descrito em PLoS Pathogens hoje1. A equipe que o descobriu também pode ter encontrado o primeiro humano a ser infectado: o principal responsável por uma colônia de macacos titi (Callicebus cupreus) que sofreu um surto.

O culpado é um adenovírus, um de uma classe de vírus que causa uma série de doenças em humanos, incluindo a pneumonia. Mas esta estirpe em particular nunca foi vista antes. Foi apelidado de TMAdV, ou titi-monkey adenovirus.

“Sempre se pensou que os adenovírus não são provavelmente causas de surtos ou pandemias porque nunca se soube que se cruzassem entre animais e humanos”, diz Charles Chiu, diretor do UCSF-Abbott Viral Diagnostics and Discovery Center da Universidade da Califórnia, São Francisco (UCSF), que liderou o estudo. Agora essa suposição precisa ser reexaminada.

Em maio de 2009, um surto mortal de doença respiratória se espalhou através de uma colônia de macacos titi no California National Primate Research Center, em Davis. Dos 65 macacos alojados em um prédio, 23 desenvolveram sintomas, incluindo pneumonia. Como resultado, 19 morreram ou foram abatidos.

Chiu e os seus colegas analisaram tecido retirado dos macacos afectados, e identificaram um vírus anteriormente desconhecido. O sequenciamento genético revelou ser um adenovírus, embora seu genoma fosse substancialmente diferente dos de todos os vírus relacionados conhecidos.

Mas o que alertou os pesquisadores de que havia algo incomum sobre este vírus, diz Chiu, foi o que aconteceu quando eles tentaram cultivá-lo. “Era incomum vê-lo crescer bem em linhas de células humanas, mas não em células de macacos”, diz ele. Isto sugeriu que o vírus poderia infectar tanto humanos como macacos titi. “Depois de entrevistarmos todo o pessoal, a única pessoa que disse ter estado doente foi um pesquisador – aquele que tinha tido o contato diário mais próximo com a colônia”, diz Chiu.

Aquele pesquisador experimentou sintomas semelhantes aos da gripe no trato respiratório superior durante quatro semanas. Mais crucial ainda, um membro da família que nunca tinha visitado o centro de primatas também ficou doente – demonstrando que a TMAdV pode se espalhar entre os humanos.

Origens desconhecidas

Os macacos titi podem não ter sido os hospedeiros originais do vírus. Dos que desenvolveram sintomas, 83% morreram – uma taxa de fatalidade que impediria o vírus de circular na população sem exterminar os macacos. Em cepas de adenovírus específicas de humanos, as taxas de mortalidade geralmente chegam apenas a 18%.

A espécie hospedeira original pode ser humana, que passou o vírus para os macacos, apenas para que ele salte de volta para os humanos – ou pode ser outro animal, como um roedor. Os pesquisadores estão coletando amostras de sangue de macacos e humanos de todos os Estados Unidos, Brasil e África para ajudá-los a descobrir a origem do vírus.

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Chiu diz que não há razão para suspeitar que haverá uma pandemia de TMAdV, como tem havido com outros vírus que se espalharam para humanos a partir de animais. Uma pesquisa com amostras de sangue de 81 doadores aleatórios e saudáveis de sangue do oeste dos Estados Unidos descobriu que duas pessoas já tinham níveis significativos de anticorpos contra a TMAdV. “Este vírus então potencialmente atravessou para a população humana há muito tempo e agora está circulando em níveis baixos”, diz Chiu.

Mas quanto mais soubermos sobre este e outros novos vírus, melhor, diz Eric Delwart, um virologista do Instituto de Pesquisa de Sistemas Sanguíneos da UCSF. “Caracterizar os viromes animais facilita a detecção de vírus relacionados, e pode raspar alguns dias preciosos da identificação de um novo vírus no caso de um futuro surto grave”, diz ele.

A descoberta também levanta a possibilidade de usar adenovírus como vetores na terapia genética, na qual um vírus é usado para corrigir defeitos nos genes de um paciente, diz Chiu. “O fato de que a TMAdV parece infectar duas ou mais espécies diferentes, mas não é comum na população humana, também sugere que esta pode ser uma terapia que poderia ter uma aplicabilidade mais ampla”, diz Chiu, porque significa o vírus em uma gama mais ampla de alvos. Outros laboratórios já estão investigando terapias genéticas usando adenovírus. “Isto poderia abrir novas e melhores possibilidades de tratamento”, diz Chiu.