Viver da forma que quer ser lembrado

“A Morte é o destino que todos nós partilhamos; nunca ninguém escapou dela. A morte é muito provavelmente a melhor invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Limpa o velho para abrir caminho para o novo”. – Steve Jobs

Patagônia é meu lugar favorito, mas eu nunca pensei que poderia ser meu último.

Eu estava caminhando pela bela floresta como eu fiz muitas vezes antes. Mas nesta ocasião, minha mente estressada me pregou uma peça, e eu me vi perdido. Estava muito escuro e tarde para ver o meu caminho de volta.

Pensei que ia morrer. As minhas roupas não eram adequadas para passar a noite no meio do nada. O tempo não era a única ameaça: aquele lugar era um habitat natural para os leões da montanha.

Refletimos sobre como vivemos quando estamos prestes a morrer. Mas não deveria ser a nossa morte o que guia como vivemos?

Porque não podemos aceitar a morte

“Nós perturbamos a nossa vida com pensamentos sobre a morte, e a nossa morte com pensamentos sobre a vida”. – Michel de Montaigne

Grandes finais nos fazem lembrar um filme para sempre. Em nossas vidas, evitamos escrever esse último episódio.

Senti medo naquela noite na Patagônia. Eu não queria morrer. Não porque me arrependesse do que tinha ou não tinha feito. Mas porque eu acreditava que podia fazer mais. A minha missão na terra ainda não tinha terminado. 537>>

Celebramos a vida. Mas a morte parece escura e triste. 537>

Como pergunta o grande filósofo Thomas Nagel: “Se a morte é o fim permanente da nossa existência, será o mal?”

A literatura tem tido um papel influente em retratar a morte como algo mau – porque ela nos priva da vida. Mas, como explica Nagel, no caso da morte, não há sujeito a sofrer danos. Enquanto existir uma pessoa, ela ainda não morreu. Uma vez que ele morre, ele não existe mais; assim, não há mal que a morte possa causar a essa pessoa.

Você pode pensar que isso é muito racional. Ou que lhe falta compaixão para com aqueles que perderam os seus entes queridos. Mas, esse é o paradoxo da morte: aqueles que choram os mortos estão vivos. Podemos agarrar-nos à tristeza ou transformar essa perda em algo significativo.

Um dos meus amigos faleceu no início deste ano. Apanhou-nos a todos de surpresa. Estávamos apenas a assimilar o seu recente diagnóstico de cancro. O prognóstico não parecia bom, mas a morte foi ainda mais rápida.

Perder um amigo dói profundamente. Mas é irreversível. Quando sinto falta dele, sinto-me triste, mas também me faz lembrar de celebrar a vida. Ele merece que prestemos respeito à sua partida antecipada.

Não estou apenas a dizer, “aproveita o dia”. Estou a encorajá-lo a viver a sua vida com um propósito. Em vez de tentar agarrar-se à vida para sempre, abrace a sua efemeridade. E se virmos a vida como uma preparação para morrer?

Quando a morte bater à sua porta, esteja pronto para partir. Viva sem arrependimentos. Quando deixares de retratar a morte como o mal, vais começar a gostar de viver.

As civilizações ocidentais temem a morte. Isso é porque fomos ensinados a agarrarmo-nos às coisas. No nosso mundo material, a vida também se tornou uma possessão. E não a podemos largar.

Interessantemente, quando alguém morre, até as pessoas mais religiosas se sentem tristes. Agarramo-nos à vida como uma propriedade material, cegando assim as nossas crenças espirituais.

Deixemo-nos de viver; não é uma possessão. Não se pode controlar quanto tempo se vive. Mas você consegue como. Aceite a morte. Ter medo da morte não te deixa tirar o máximo proveito da tua vida.

E se morreres amanhã?

“A análise da morte não é para teres medo, mas para apreciares esta preciosa vida.” – Dalai Lama

Quando tememos a morte, deixamos de viver.

Gostamos de nos sentir invencíveis ou imortais por esse motivo. Mas não pensar na morte não vai fazer a sua vida durar para sempre. É preciso coragem para enfrentar esta verdade vulnerável: a única certeza é quão incerta é a vida.

Evitamos pensar na morte, mas tememo-la em silêncio. Mantendo a pergunta “e se eu morrer amanhã?” presente irá libertá-lo dessa preocupação que existe a um nível subconsciente.

Tente este exercício que aprendi com Bernie Roth em Stanford. Responda uma pergunta de cada vez.

Magine você tem 10 minutos para viver, o que você faria?

E dez dias?

E dez meses?

E dez anos?

E o resto de sua vida?

A cada vez que eu facilito este exercício em uma oficina, ele pega todo mundo desprevenido.

Temos o tempo como garantido. Mas quando o final está ao virar da esquina, lamentamos as nossas suposições. Algumas pessoas se sentem culpadas pelo que não fizeram (por exemplo, não dizer “eu te amo” ou “sinto muito” mais vezes). Algumas pessoas ficam ansiosas para terminar (ou começar) seu projeto mais valioso. Todos concordam que querem passar seus últimos 10 minutos com sua família próxima.

Este exercício é muito comovente, especialmente feito em grupo. A premissa de enfrentar nossa (futura) morte é uma poderosa reflexão sobre como estamos vivendo.

O propósito deste exercício é parar de tomar a vida como certa. Como aconteceu comigo quando eu tive que sobreviver ao frio da Patagônia. Viver como se você fosse morrer amanhã.

Adicionar um sentido de urgência à sua vida faz você se concentrar no que realmente importa. Gaste sua energia fazendo algo digno do seu tempo na Terra.

O budismo promove a meditação sobre a morte e a morte como uma forma de abraçá-la e preparar-se com antecedência. A maioria das pessoas acha esta ideia absurda. Mas, como eu disse antes, ignorar as suas preocupações não fará desaparecer a ‘morte’.

Como disse Zasep Tulku Rinpoche: “A vida é muito curta. A morte pode acontecer a qualquer momento; você não sabe quando. À medida que envelhecemos, sabemos que não nos resta muito tempo. Eu tenho talvez dez anos, quinze anos, talvez vinte anos. Por isso, o tempo passa rápido, e a morte vai acontecer mais cedo ou mais tarde.”

Também, meditar sobre a morte é útil para familiares, enfermeiras ou médicos – é bom saber mais sobre como ser útil nestes tempos.

A morte é tanto inevitável como incerta. Sabemos que isso vai acontecer, mas não sabemos quando. O nosso corpo humano – toda a nossa existência – é muito frágil. A prática espiritual pode treinar nossa mente para aceitar essa verdade em vez de estar em negação.

Se você se sentir cético, eu recomendaria que você desse uma tentativa a esta meditação de morte.

Como disse Chagdud Rinpoche, um lama tibetano: “Quando você tem que ir ao banheiro, é tarde demais para construir uma latrina.”

Não comece a pensar na morte até que seja tarde demais.

Escreva seu próprio obituário – Exercício

“Viva como se você fosse morrer amanhã. Aprenda como se você fosse viver para sempre. ” – Mahatma Gandhi

Viva da maneira que queres ser lembrado. Não deixe que outros escolham as palavras do seu obituário. Deixe os seus actos e legado escreverem em vez disso.

Usamos este exercício em algumas das nossas oficinas de liderança de mudança. Escrever o seu próprio obituário não é fácil. Pensar na sua morte é comovente. Mas é um ótimo caminho para se reconectar com a impressão que você quer deixar quando você disser adeus pela última vez.

Vá em frente. Escreve o teu próprio obituário. Não te leves muito a sério. Se você é bem-humorado, deixe seu epitáfio ser divertido também. Use o seguinte modelo

  1. Comece por escrever o seu nome como gostaria que fosse na sua lápide.
  2. Numa só linha, como fez do mundo um lugar melhor? Seja conciso. Quanto mais concentrado, mais honesto você será consigo mesmo.
  3. Escreva como as pessoas vão se lembrar de você. Evite linguagem pomposa. Mantenha-se fiel ao tom e palavras que as pessoas normais usariam – especialmente aqueles que o conhecem bem. O porquê é essencial (mais uma vez, você não precisa da lista completa de lavanderia).
  4. Esta parte requer mais introspecção. Olhe-se ao espelho e responda a isto sem filtragem: “Quem era o seu verdadeiro “eu”?” Não as suas máscaras ou fatos, não o seu trabalho ou títulos ou papéis. Qual era a sua essência? O que o tornou único?
  5. Dizer ‘sim’ é fácil. O que dizemos ‘não’ para definir quem define quem realmente somos. O que foi no seu caso? Quais são as ‘tentações’, distrações ou possibilidades a que você disse ‘não’ porque elas o desviariam de alcançar seus objetivos?
  6. Quem sentirá mais sua falta? Isto parece fácil, mas não é. A resposta não é sobre o que você deseja, mas tentar entender quem realmente sentirá falta. Muita gente vai sentir falta, com certeza. Mas quem eram aquelas pessoas a quem você quis dizer algo especial? Mais uma vez, evite julgar-se a si mesmo. Ser honesto é o que torna este exercício significativo.
  7. Agora é hora de ser criativo. Os passos anteriores forneceram o pano de fundo; agora é hora de dar vida ao seu epitáfio. Escreva em um ou dois parágrafos as palavras que você gostaria que alguém dissesse sobre você depois que você partiu. Esta é a parte mais crítica do exercício. Conecte-se com sua verdadeira essência, não com sua vaidade

Vá em frente, e faça o seu!

Compartilhe seus pensamentos. O que você aprendeu sobre si mesmo ao fazer este exercício? Como você definiria sua relação com a morte?