Resposta
Despertar pode servir uma função social (para comunicar o tédio) e uma função fisiológica (regulação do estado corporal).
O estudo do bocejo é tudo menos aborrecido. Ele ostenta uma rica história de teorias que remontam à Antiguidade, mas até agora a função biológica do bocejo permanece um mistério.
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Nem todos os bocejos são iguais. A maioria de nós boceja e estica (pandiculação) quando acordamos ou vamos para a cama, boceja quando estamos entediados ou quando precisamos “estalar” os ouvidos depois de viajar em grandes altitudes, e até boceja só porque vimos alguém bocejar. O acto de bocejo (oscitação) ocorre em quase todos os vertebrados – mesmo aves e peixes exibem uma forma de bocejo semelhante ao bocejo. Em humanos, o bocejo pode começar tão cedo quanto 20 semanas após a concepção.
Um bocejo é um movimento coordenado dos músculos torácicos no peito, diafragma, laringe na garganta, e palato na boca. Ao bocejar, ajudamos a distribuir o surfactante (agente molhante) para revestir os alvéolos (pequenos sacos aéreos) nos pulmões. De um modo geral, não podemos bocejar sob comando. É teorizado que o bocejo é uma ação semi-voluntária e parcialmente um reflexo controlado por neurotransmissores no hipotálamo do cérebro. Também está associado com níveis aumentados de neurotransmissores, proteínas neuropeptídicas e certas hormonas.
Por que bocejamos?
Existem inúmeras teorias sobre o porquê de bocejarmos e os cientistas ainda não chegaram a nenhum consenso. Uma das primeiras teorias para bocejar pode ser rastreada até Hipócrates, o pai da medicina, que supôs que o bocejo precede uma febre e é uma forma de remover o ar ruim dos pulmões. Baseado em evidências modernas, porém, parece improvável que o bocejo sirva como uma função do sistema respiratório.
Por volta dos séculos XVII e XVIII os cientistas estavam desafiando as teorias hipocráticas do bocejo. Estas novas teorias centraram-se no sistema circulatório, sugerindo que o bocejo provoca um aumento da pressão arterial, do ritmo cardíaco e do oxigénio no sangue, o que por sua vez melhora a função motora e o estado de alerta. Isto pode explicar porque muitos atletas bocejam antes de praticarem os seus respectivos desportos. No entanto, testes atuais têm mostrado que a freqüência cardíaca, suor ou atividade elétrica do cérebro não aumentam após o bocejo.
Hoje, os cientistas continuam a pesquisar a(s) função(ões) do bocejo. Pioneiro pesquisador sobre comportamento contagioso, Dr. Robert Provine sugere que o bocejo está “associado à mudança de um estado comportamental – vigília para dormir, sono para vigília, tédio para alerta…(Provine, 2005)”. E estudos mais recentes sugerem que o bocejo pode estar ligado à temperatura do cérebro (Gallup e Gallup, 2008). Quando o cérebro se torna mais quente que a temperatura homeostática (estável), podemos bocejar para arrefecer o cérebro. É teorizado que o sangue mais frio do corpo inunda o cérebro e o sangue quente circula pela veia jugular.
Dr. Andrew Gallup e Omar Tonsi Eldakar (2011) descobriram que a temperatura exterior também pode afetar a quantidade de bocejo. Se a temperatura exterior é mais quente que o normal, então o organismo boceja com menos frequência. Uma possível explicação para isto é que como o ar exterior é inútil para o organismo, ele não precisa sugar mais oxigênio através do bocejo. Entretanto, outros testes mostraram que a quantidade de bocejo aumentou quando tanto a temperatura externa quanto a temperatura do cérebro aumentaram.
Existem também explicações sociológicas e evolutivas de base biológica. O bocejo pode estar ligado aos nossos ritmos circadianos (actividade biológica relacionada com um ciclo de 24 horas) como um sinal para ir para a cama ou como um ritual de despertar. Pode ser como uma forma de transmitir aborrecimento ou sentimentos de stress ao grupo social. O bocejo também pode ser contagioso.
Teorias de bocejo contagioso
Contagioso bocejo vem de testemunhar alguém ou pensar em outro bocejo. De acordo com estudos (Platek, et al), 42-55% dos adultos humanos bocejam durante, ou depois de assistir a uma fita de vídeo de outra pessoa bocejando repetidamente. Acontece tipicamente em seres humanos normais mais velhos e bem ajustados. Tradicionalmente, não é visto em humanos com menos de cinco anos ou pessoas com autismo.
O psicólogo revolucionário Gordon Gallup, descreve melhor o bocejo contagioso como um “mecanismo empático primitivo relacionado à atribuição do estado mental (Oxford Handbook of the Self, 2011: p100)”. O bocejo ativa a imitação motora, a empatia e o comportamento social de partes do cérebro. Neurônios no fogo cerebral fazendo você sentir o que essa pessoa está experimentando e ordenando que você execute a ação mesmo que você não sinta realmente a necessidade.
Após ler isto você pode ter se encontrado bocejando. Espero que não tenha sido por achar este ensaio aborrecido, mas porque coloquei a ideia de bocejar na sua cabeça.
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